Mensagens vindas do espaço (I)
Por: António Piedade
“A Terra é azul. Como é maravilhosa. Ela é incrível! “
Foram estas algumas das palavras proferidas pelo primeiro homem no espaço, o cosmonauta russo Iuri Gagarin, a 12 de Abril de 1961. Disse-as ao contemplar o planeta Terra através da escotilha da cápsula Vostok I (que em russo significa "Oriente"). A partir deste deslumbramento, o nosso planeta passou a ser recorrentemente adjectivado pela sua cor azul.
Mas a mensagem mais famosa emitida por um ser vivo a partir do espaço, mais especificamente da Lua, e recebida na Terra, será aquela com que o recém-falecido Neil Armstrong nos encantou historicamente a 20 de Julho de 1969, numa metáfora daquilo que cada um de nós, na sua pequenez, pode fazer pela humanidade: “Este é um pequeno passo para o homem, um salto gigantesco para a humanidade".
A comunicação via rádio entre Yuri Gagarin e o pessoal técnico do centro de controlo na Terra, em território da ex-União Soviética, constitui o primeiro envio de mensagens de um ser humano a partir do espaço para a Terra. Mas terão sido estas as primeiras mensagens de seres vivos no espaço captadas por seres humanos na Terra? Não.
No final da década de 50 do século passado, foram enviados alguns animais para o espaço a bordo de naves, exactamente para preparar e ajustar a tecnologia aeroespacial que enviaria seres humanos na década seguinte para o espaço.
O primeiro ser vivo, conhecido, a orbitar o planeta Terra foi um exemplar do melhor amigo do homem: um cão. Por sinal uma cadela, de nome Laika (em russo Лайка), selecionada de entre os cães das ruas de Moscovo. Laika foi lançada para o espaço a bordo da nave soviética Sputnik II, a 3 de Novembro de 1957.
Laika terá, talvez, ladrado, latido, gemido, rosnado, uivado e, talvez, comtemplado em silêncio a sua visão do planeta Terra. Contudo, desconheço se a cápsula em que orbitou a Terra tinha alguma escotilha que lhe permitisse ver o espaço e a Terra. Mas os seus sinais vitais foram seguidos telemetricamente no centro de controlo da missão, pelo que poderemos considerar estes os primeiros sinais de vida recebidos do espaço: 100 pulsações por minuto do seu coração!
Pelo menos, através dos seus sinais de vida, batimento cardíaco, respiração e outras funções fisiológicas, podemos deduzir que nas duas orbitas completas que terá feito ao planeta (terá falecido muito antes do planeado devido a stresse e sobreaquecimento da cápsula) Laika comeu tranquilamente.
Terá estado sempre em silêncio? Se não, terão os seus sons sido ouvidos e registados na Terra? Terá sido um latido a primeira mensagem de um ser vivo no espaço a ser captada na Terra?
(Continua)
António Piedade
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António Piedade
António Piedade é Bioquímico e Comunicador de Ciência. Publicou mais 700 artigos e crónicas de divulgação científica na imprensa portuguesa e 20 artigos em revistas científicas internacionais. É autor de nove livros de divulgação de ciência: "Íris Científica" (Mar da Palavra, 2005 - Plano Nacional de Leitura),"Caminhos de Ciência" com prefácio de Carlos Fiolhais (Imprensa Universidade de Coimbra, 2011), "Silêncio Prodigioso" (Ed. autor, 2012), "Íris Científica 2" (Ed. autor, 2014), "Diálogos com Ciência" (Ed. autor, 2015) prefaciado por Carlos Fiolhais, "Íris Científica 3" (Ed. autor, 2016), "Íris Científica 4" (Ed. autor, 2017), "Íris Científica 5" (Ed. autor) prefaciado por Carlos Fiolhais, "Diálogos com Ciência" (Ed. Trinta por um Linha, 2019 - Plano Nacional de Leitura) prefaciado por Carlos Fiolhais. Organiza regularmente ciclos de palestras de divulgação científica, entre os quais, o já muito popular "Ciência às Seis". Profere regularmente palestras de divulgação científica em escolas e outras instituições.
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